Ler para as crianças e com as crianças é fundamental

Era uma vez, uma linda menina de cabelo enroladinho que se chamava Vitória. Ela era uma linda criança que amava de montão estar na escola, principalmente naqueles momentos mágicos em que ela percebia que a professora Magali, ao se levantar de sua mesa que tinha cor de gelatina de limão, caminhava pela sala de aula na direção da estante amarela no canto da parede. Era ali, bem em cima das prateleirinhas cor de sol, onde ficavam guardados à vista de todo mundo da sala, os livrinhos com as melhores histórias do mundo.

Como é incrível viver a experiência de se encantar com a vida ao lado de uma criança, quando podemos ler para ela alguma historinha especial! Seja como professor para enriquecer a aula com a turminha de alunos na escola, seja como pai, mãe ou familiar para tornar mais especial aquele momento antes de dormir, a literatura infantil abre espaços para inúmeros benefícios, tanto para o desenvolvimento de competências técnicas, quanto para o desenvolvimento de competências socioemocionais. A leitura de histórias fortalece as crianças para a vida!

A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal organizou um seminário onde foram apresentados, em junho de 2022, resultados do estudo “Avaliação da qualidade da educação infantil”. Para o estudo foram visitadas 3.467 turmas por todo o Brasil, sendo 1.683 creches e 1.784 pré-escolas, em 1.807 unidades educacionais. Além de diversas informações relevantes, o estudo revelou que em cerca de 55% das turmas avaliadas, a leitura de livros de histórias infelizmente não é priorizada para as crianças, não havendo um momento de leitura desses conteúdos como parte da rotina.

Em um mundo tão acelerado, que desde muito cedo muitas vezes empurra nossos pequeninos para a comodidade do mundo das telas, momentos de leitura podem ser na verdade um grande antídoto contra a crueldade tóxica da hiper estimulação. Já há algum tempo que pesquisadores como o psicólogo e pós doutor Cristiano Nabuco, nos alertam a respeito dos efeitos nocivos gerados pelo excesso de uso de dispositivos eletrônicos. Ele nos lembra que a Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que crianças na idade de 0 a 2 anos não devem utilizar tais recursos e as de 2 a 5 anos, que tenham a regulação do acesso por no máximo uma hora por dia.

Cultivar um caminho que seja pavimentado pelo amor à leitura, é com toda a certeza, uma das estratégias mais eficazes para o desenvolvimento humano de nossas crianças, por vezes tão “digitalizadas” nos dias de hoje. Muitas vezes em meio à solidão das telas, se distraem, se acalmam, se alimentam, se entretém enquanto o mundo dos grandes segue girando freneticamente. A promoção de vínculos em relacionamentos saudáveis pode ser estimulada e alcançada quando abrimos espaço para um mergulho sem pressa nas letrinhas da história de um livro. Muitas vezes a parte mais importante de alguém ter lido para mim, é que alguém parou comigo e leu para mim!

Elementos como as expressões faciais, a entonação da voz, a preparação do ambiente e principalmente o afeto promovido por meio de encontros humanos, favorecem o desenvolvimento da empatia, do autoconhecimento, das habilidades orais e da alfabetização. Ler para as crianças junto com elas abre espaços importantes para a aprendizagem, para a criatividade, desperta a curiosidade, estimula a imaginação, além de desenvolver outras habilidades, como a capacidade de resolver problemas complexos. Ler para alguém ajuda a nos darmos conta da vida que nos toca naquele instante!

O desenvolvimento da autoconfiança, tão fundamental para a aprendizagem e para a vida, é também outro grande benefício que se alcança quando abrimos espaços em nossas agendas, geralmente tão ocupadas com “coisas importantes”, para priorizarmos momentos afetivos e efetivos de leitura. Este gesto de coragem nos habilita para a realização de valores criativos e de convivência, que segundo Viktor Frankl, nos ajudam a fortalecer nossas crianças para que percebam o sentido da vida que está sempre presente! Ler para alguém por amor é dizer sim à vida!


Texto:
Alberto Carneiro | Foto: Deposiphotos