Escrever à mão ou digitar: qual é a melhor forma de aprendizagem?

Já vimos (ou ouvimos falar de) diversas pesquisas publicadas sobre como escrever à mão nos ajuda a reter melhor as informações, até com detalhes de como usar uma caneta azul, especificamente, pode facilitar o processo de memorização de determinado assunto. Mas isso significa renegar um processo irrefreável de incorporação de tecnologia na educação?

Longe de pretender esgotar esse tema, podemos analisar alguns desses estudos e entender quais componentes de cada maneira de se anotar e estudar podem ser benéficos a nossos alunos. 

Um estudo de 2014, feito pela Universidade de Princeton  e pela Universidade da Califórnia, foi confirmado por outra pesquisa da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em 2020. Em ambas, descobriu-se que escrever à mão é mais eficaz para a aprendizagem devido ao processo envolvido na atividade. O aluno precisa ouvir, pensar sobre o que foi dito e resumir a informação de maneira compreensiva, uma vez que a escrita com papel e caneta é mais lenta do que a digitação.

Geralmente, quem está usando o laptop tende a registrar rapidamente tudo o que está sendo dito, sem necessariamente refletir sobre isso. Mesmo quando os participantes foram avisados ​​de que a retenção de informações poderia ser prejudicada e aconselhados a pensar enquanto transcreviam, os resultados da primeira pesquisa mostram déficits intelectuais em alunos que tomavam notas usando notebooks.

E tratando-se de crianças e até do processo de aprendizagem da escrita em si, é preciso redobrar a atenção. Os noruegueses enfatizam que, ao utilizar os avanços tecnológicos, é importante garantir que a prática da caligrafia continue a ser uma atividade central na aprendizagem precoce das letras, independentemente de ocorrer com caneta e tablet ou com papel e lápis tradicionais. 

Isso porque, segundo o próprio estudo de 2020, o objetivo da investigação não era proibir os dispositivos digitais na sala de aula e voltar aos anos 1950. Em vez disso, a ideia é criar consciência sobre qual tradição de aprendizagem tem o melhor efeito em qual contexto. 

Portanto, um ambiente ideal precisa incluir o melhor de todas as disciplinas, considerando os pontos fortes e o apoio que cada uma delas oferece. Cabe à escola, munida dos estudos e do embasamento científico, definir os limites da inserção tecnológica no modelo de ensino da instituição.

É preciso avaliar em quais momentos ou tipos de aulas, bem como a faixa etária em questão, é fundamental incentivar a escrita à mão. Por outro lado, estabelecer em quais contextos os dispositivos eletrônicos podem ser úteis e construtivos. Podemos pensar também em como ensinar os jovens a tomarem notas com dispositivos eletrônicos de maneira a potencializar a aprendizagem. Ou seja, usar os achados científicos a nosso favor.

De forma geral, treiná-los também a superar o instinto de escrever tudo que se está ouvindo, ser mais seletivo, raciocinar e registrar os pensamentos formados. E organizar as anotações e revisá-las, por exemplo. Porque, mais velhos, na faculdade e no trabalho, a tecnologia provavelmente será a escolha dominante.

Essa reflexão e a escolha consciente das atividades propostas são mais importantes do que determinismos sobre certo e errado. Aproveitando o que cada técnica tem de melhor, tanto o desenvolvimento cognitivo como a eficiência da aprendizagem podem ser reforçados.

Texto: Marcela Braz.